Cícero Lourenço Pereira, presidente da Fetrhotel (Federação Interestadual dos Trabalhadores Hoteleiros de São Paulo e Mato Grosso do Sul)
Nos últimos dias, a cobertura midiática sobre a possível volta do imposto sindical tem sido marcada por uma narrativa que desmerece sindicatos e desinforma a população. É inacreditável o tratamento que se dá a um tema de extrema importância, num país tão desigual onde a maioria dos trabalhadores recebem valores ínfimos por seu trabalho. Esses valores seriam ainda menores se não fossem os sindicatos.
A abordagem de alguns meios de comunicação reforça preconceitos e ajuda perpetuar a desigualdade entre trabalhadores e empregadores, ignorando a importância histórica das entidades sindicais na defesa de direitos.
Bombardear os trabalhadores com informações incompletas é a arma que os meios de comunicação utilizam para defender e proteger a classe dominante e enfraquecer o poder dos trabalhadores.
Esquecem que os sindicatos são o principal instrumento de organização dos trabalhadores em um sistema onde o poder econômico está concentrado nas mãos de grandes corporações e de uma parcela muito pequena da população.
Os sindicatos negociam melhores salários, condições de trabalho dignas e benefícios essenciais, enfrentando, muitas vezes, barreiras impostas por empregadores que buscam maximizar lucros à custa da força de trabalho. A tentativa de desqualificar essas entidades apenas favorece a manutenção das desigualdades nas relações de produção.
O financiamento sindical é essencial para garantir que essas entidades desempenhem seu papel de forma autônoma e eficiente. Sem recursos, os sindicatos ficam fragilizados, o que compromete sua capacidade de negociar coletivamente com os empregadores, de oferecer apoio jurídico aos trabalhadores e de atuar em políticas públicas que promovam a igualdade no mercado de trabalho.
A narrativa dominante insiste em associar a possível retomada do imposto sindical à ideia de financiar privilégios e “pelegadas”, uma expressão pejorativa que ignora a realidade de milhares de trabalhadores beneficiados por convenções coletivas. É importante lembrar que a extinção do imposto em 2017 não significou o fim dos problemas financeiros para sindicatos, mas sim um enfraquecimento estrutural que prejudicou a capacidade de lutar por melhores condições de trabalho.
Ao invés de apontar falhas no sistema e discutir melhorias, os meios de comunicação promovem uma campanha de demonização das entidades sindicais. A consequência disso é a desinformação do público e o enfraquecimento de uma das poucas ferramentas de negociação coletiva que trabalhadores têm à disposição.
Ao atacar os sindicatos sem contextualizar as relações de poder entre empregadores e empregados, essas narrativas ignoram que a organização coletiva é uma necessidade em um mercado de trabalho marcado por desequilíbrios. No lugar de criticar cegamente, é preciso discutir modelos de financiamento que preservem a independência dos sindicatos e garantam sua eficácia.
Os trabalhadores não devem se enganar: os ataques sistemáticos aos sindicatos favorecem apenas aqueles que já detêm o poder econômico. Para equilibrar a balança e assegurar dignidade aos trabalhadores, o fortalecimento dos sindicatos deve ser uma prioridade, e não o contrário.
A quem interessa desmantelar os sindicatos? Certamente não ao trabalhador.
Está na hora do movimento sindical se unir e retomar a luta com força total para o fortalecimento da classe trabalhadora.